quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Entre Ontem e Amanhã

Eu queria saber o que você diria HOJE a você mesmo,

ao se olhar no espelho e ver os calos e rugas,

que a vida lhe deu de presente, ou lhe vendeu pelo tempo:

Os veria como uma conquista? Ou como uma derrota?
...

Qual seu medo? O que há por trás deste olhar vago?

Vá, se solte! Vamos, me diga! Qual sua cor favorita HOJE?

Só HOJE... Deixe fluir... Eu só queria saber:
quem é você HOJE.

Sufocando o Grito

Um grave tom de ironia me exprimi,

contradigo a mim e contrario o mundo.

Este cego mundo a observar-me fixo.

Ou serei apenas eu que o sinto assim,

prepotência dos compulsivos.
...

Uma rouca cor de lucidez chama-me,

mas eu não vou, eu não quero, eu não.

Aquele silêncio do estrondo borbulhou.

Foi apenas um arrepio, ou talvez seja eu,

querendo mais uma vez negar os fatos.
....

Um negro calor de realidade me cala,

estou no vácuo do grito, da corrida.

Minha cabeça dói a lágrima deprimida.

O socorro não chega e o alambrado rachou;

"Serei eu quem caiu?"; delírio não é redenção.
...

Um grave tom de ironia me espreme,

para lembrar que o mundo continuou.

Este cego que me tornei, demente fixo.

Algo que ninguém sente não existe,

mas o que fazer com o que eu senti?

Universos Silenciosos

Quando vestidos,

em nossas alegorias cotidianas,

parecemos dois estranhos.

Abismos do discernimento.

Distância intrasponível

a máximos olhares de canto,

cutucões e sorrisos sem graça.
...

Então ele me olha

nos olhos e penetra-me

a alma.

É como se milênios

se passassem, nesse

cosmo infinito.
...

Em tão pouco, despidos

de qualquer dispersão.
...

Estamos tão

próximos,

inevitavelmente

únicos, unidos

em respiração

e pele.
...

Quando somos

inimaginavelmente distantes.
...

Dos sorrisos,

relapsos tão puros.

Das conversas intermináveis

e inentendíveis

para qualquer organismo

que nunca levitou

entre tantas insígnias.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Abstinência

( Sexta-feira a noite em Florianópolis)

Alguns dias me parecem tão vagos
...

Procurando uma maneira de fugir

Querendo um lugar para me esconder

Um colo para deitar e ficar muda

Litros de vinho e chopp para me afastar

Qualquer dose de abstinência de mim

Parar o mundo para descer, parar de ser
...

Alguns dias me parecem tão vagos
...

E você não esta aqui, em mim

Para me esconder nos teus olhos

Para me calar em gemidos

Para me drogar de prazer

Qualquer dose de abstinência de mim

Parar o mundo para me conhecer em ti
...

Alguns dias me parecem tão vagos
...

Há quem não diga te amo, apenas olá

Contornando o mundo com tinta

Pintar as telas da mente, mentir

Para ver, além do real, a arte

Qualquer dose de abstinência de mim

Parar o mundo para criar, recriar-me
...

Alguns dias me parecem tão vagos
...

E eu continuo aqui, sem mim

Para me esconder dos meus olhos

Para me calar dos gemidos

Para me drogar sem prazer

Qualquer dose de abstinência de mim

Parado mundo, onde parada estou
...

Alguns dias me parecem tão vagos

domingo, 9 de agosto de 2009

Hasteando Bandeiras Molhadas

Já há tempos

tentei fugir,

mas estava amarrado

até no descanso da rede.
...

Preguiça contemporânea,

trama de fios, estopa,

levitar apoiado

de quem não sabe voar.
...

Liberdade. Movimento. Apatia.
...

Tão perto e tão distante do mar

iludi-me saber andar sobre as águas.

Não querendo ser mais um

galho a afundar.
...

O vento.

A dúvida

de se deixar levar

ou se agarrar.
...

Liberdade. Movimento. Apatia.
...

Estouros de emoção.

A visão negra

de quem só sabe

olhar para dentro.
...

Mas é preciso

agarrar o que é distante,

alongar-se, estender-se

e distender-se de si.
...

Liberdade. Movimento. Apatia.
...

Estar preso apenas

por um fio entre

a realidade preto e branco

e todo o colorir
...

Andando sempre

no mesmo pêndulo.

Andando sempre

sem sair do lugar.
...

Liberdade. Movimento. Apatia.
...

Buscar. Eterno buscar.

Insatisfação de quem

se iludi no lúdico

de se recostar.
...

Querer ser

uma borboleta,

mas apenas prender-se

mais ao casulo.
...

Liberdade. Movimento. Apatia.
...

Foi então que

em um impulso,

de quem espera a muito

a beira do precipício, cai.
...

Agarrando-me até o último fiapo

do que eu tinha na sombra

de um passado, de um inseto preso

na teia diante do céu azul.
...

Liberdade.
...

Entregue a nostalgia,

que desperdicei

minhas últimas forças

neste lapso

de tempo incoerente

e ao fim de minha

ambigüidade

libertei-me.
...

Movimento.
...

E nos tempos do agora

ninguém mais

pode me ver,

pois quem está

preso a farrapos

só sabe dizer

que panos molhados

são perígosos.
...

Apatia

Um Tapa

Um tapa nasce

do acasalamento

de formigas na mão

com pontadas no peito.

Neste estágio ele é ainda

grudado a mãe, indefeso,

sem grandes certezas,

ou dúvidas,

não passa de um inocente

sopro de vida.
...

Um tapa cresce

quando a mão espalma,

com a tensão e raiva

de um guerreiro ferido.

Ele agora é independente

e visível ao mundo,

mas nas suas infantes

travessuras ainda pode

se esconder atrás

do escudo fiel do sarcasmo.
...

Um tapa amadurece

como árvores a busca de luz,

ganhando de um membro

a altura de um arranha-céu.

Vilão da vingança, formado

no "v" do que é braço

e do que vem antes,

na postura de um adulto ereto,

com convicções inabaláveis

no auge de sua carreira.
...

Um tapa envelhece

a cada milímetro que decai,

para o seu fim certo,

enrugando-se em

tentativa tão humana

de reafirmar juventude.

Tudo é nostalgia e reflexão,

incertezas terrenas a buscar,

ainda que no inferno,

compaixão.
...

Um tapa morre

em um "plaAaft",

que muitos confundirão

com o Big-bang

ou o fim do mundo.

Neste estágio é o caótico

da fisicoquímica da matéria

que não pode ser vista

na velocidade vermelha

da luz que se estampa

na maçã esquerda

de um rosto pálido.
...

Um tapa nos assombra

cada vez que lembramos,

como alma penada

que insistimos afirmar

ser de outro mundo.

Mas, um tapa, é

uma verdade insólita

e inexoravelmente

condescendente,

que teremos de conviver

ao reler as páginas

de nossa história.

Como Lidar com Isso?

Já parou para se perguntar

como lidar com uma situação inusitada,

dessas de filme de ficção científica?
...

O que fazer quando a maçã cai da árvore,

mas não chega à cabeça do físico

e fica flutuando eternamente?
...

Para onde deve ir o ônibus sul

se todos os passageiros presentes

querem ir para o norte?
...

Como olhar sua avó se trocando?

sábado, 8 de agosto de 2009

Janelas da Ansiedade

Gostaria que me esperasses

como eu te espero,

como uma andorinha

a esperar um novo verão,

ainda que no inverno.
...

Gostaria de ter teu gosto,

como um rosto que atravessa

o frio das gotas na janela,

manicômio da clausura,

refletindo a minha solidão.
...

Gostaria de ti, não minto,

como um cão do osso

que nunca abandona,

mesmo que distante

tiver de procura-lo.
...

Gostarias de mim talvez,

como mais um remédio,

tomado na hora marcada

e esquecido na agitação,

que o neutraliza em pó.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Que Fica Guardado

( Inverno em Florianópolis )

Sentir, sentir é uma contradição

sinestésica sobrevivendo

entre, tanto mofo.

Aquilo que envolve

tudo, camada de lodo

a engolir minha vida.
...

Medos e certezas de ser,

de não estar, do querer.

Uma nuvem de fumaça

preenche, não deixando

fugir daquilo que exalo,

ou mesmo, que me inspira.

Tremor de cada gesto,

mas sei, que nunca existiu.
...

E a música que toma

cor e luz, perante

a solitária noite escura.

Enjôo, de quem engoliu

a vida de uma vez

e agora, não sabe como

rumina-la em novo jardim.
...

Reclamo, às vezes,

por todas as flores

que, nunca mais, comprei

e nem chegaram por correio.

Vejo-me, apodrecendo

com toda esta chuva

persistente, porém sem forças.

Escondida nas sombrinhas

esperando o sol, que tanto evitei,

do dia que chamou-se de amanhã.