quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Ferrão da Abelha

Sou um monstro.

Um monstro lapidado

a cerca do tempo,

deformado por cada

dia de vida.

...

Quero esfolar isto

que me reveste no asfalto

e mostrar para o mundo

o grotesco que sou.

...

Quero retratar esta

minha cara inchada

a escorrer repúdio

dos olhos e nariz;

coisinha encolhida

que vejo espelhar.

...

Quero me matar,

me afogar em minhas

próprias lágrimas,

engasgar nesse amargo

e grosso muco que desce

pela minha garganta.

...

Quero quebra todos

os espelhos com meu grito

tenebroso de angústia,

melancolia e terror.

...

Quero rasgar a minha

roupa e mostrar,

cada cicatriz, toda

verdade repugnante

que negamos enxergar.

...

Quero cortar a pele,

revelando o quão apática

é a monotonia de quem vive

nessa poça vermelha.

...

Quero interromper todos

meus ciclos, fazer meu coração

parar de bater, minha cabeça

parar de pensar, minha mão

parar de tremer rabiscar

insultar palavras compulsivas.

...

Quero a certeza

de que nenhum óvulo

vai de mim despertar.

Não quero ser Frankenstein,

enfrentando a criatura

que só quer se libertar.

...

Quero, por fim, apenas

recolher cada pedaço de mim

em uma mochila, entrar

em mata inexplorada.

...

Como pode ser bela

a pedra sem lapidação.

Como simples a vida é.

Como pode ser doce o mel

da abelha que fugiu da colméia.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Quadra(o) de Saudade

Essa mania insensata de esperar,

querer sempre mais, superar.

Otimismo cego de que algo chegará,

mas que o que é bom nunca mudará.

...

Piegas, juvenil, sonhadora burra,

és apenas mais uma que murmura.

Ao bel prazer do que virá,

tomas do que nunca saciará.

...

Essa mania insensata de desejar,

viver do lúdico e querer sempre gozar.

Destempero opaco que perseguirá,

pois a linha do horizonte não alcançará.

...

Choro infantil, mimo que forra

na mente, um agarrar de cintura.

Oh, meu Bem! O prazer chegara

e agora até esqueço que fugira(á).

sábado, 18 de julho de 2009

Aceleração Constante

Ela vai que nem respira

Inventa um novo passo

Ela é quem te inspira

Sentado a acabar mais um maço

...

Ela torce o pé, nem sente

Usa a queda de impulso

Ela não teme a mente

E segue além do discurso

...

Ela não conhece barreira

Sempre olha para trás

Ela bate de cara com a fronteira

Mas só sabe para frente andar mais

...

Ela ri dos sinais vermelhos

Inimiga do amarelo e da estática

Ela corta-se nos galhos

Equilibrando-se a cada cerca

...

Ela não sabe o fim e nem tem ninho

Mas não perde o ritmo ou reprova o dia

Ela faz da roleta russa o caminho

Procurando a própria tragédia

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sobre Lagartas e Borboletas

Olhas o pássaro no ar

com suas asas a rebentar

Enquanto tu ficas no chão,

lagarta a perder a razão

...

Difícil saber o que fazer

quando o boque começa a apodrecer

E tem-se a sensação de estar

juntamente a segui-lo, a secar

...

Toda borboleta já esteve a restejar,

alguns terrestres podem sonhar

Mas é necessário tear

O próprio casulo para voar

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Que Fica na Roupa

Amores são passageiros, são fumaça

Sempre existe, mas fácil se disfarça

Sublimando enquanto a banda passa

Não resistem ao vento ou à vidraça
...

Flores vermelhas tão belas e imparciais

Caçoando de toda a aura dos espirituais

Mas seus aromas não têm nada de habituais

Amores são essências, não são essenciais
...

Amores vêem cheiro e não cor

Dês do suave tato a troca de calor

Quando se torna indescritível o sabor

Maravilhas indigna de penhor
...

Difíceis de reconhecer sem o perfume

Fixado na roupa tão desforme

No chão depois de matar a fome

Amores são até que a fragancia consome

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Herói de Gesso

Ainda não sei se o que me domina, certezas ou medos, são

Meu coração é daqueles que dispara a cada resvalão

Minha mente, sempre alerta, procura por prisão

...

Mas tudo que quero é fugir

Fingir que nem ligo

Que do mundo me desligo

Sem nunca subtrair

...


Não sei ser juiz nem ladrão

E me transformo em uma pessoa em vão

...

Porque meu grande dom é mentir

Transformar tudo para um novo

Para um eterno sorrir

...

Surrealmente mascarada

Me vejo engulir seco

Enquanto de pulmões suplico:

Não tenho medo de nada!

...

Sei ser, dizer e correr

E nunca aprendi a viver

A Emoção da Vez

Às vezes sinto frio e não tem como aquecer

Às vezes a fome é só vontade de viver

O tempo não para e eu nunca o alcanço

Horas que tudo que ouço é um coração manso

...

Solidão é uma sirene que não quer calar

E com força os punhos não para de apertar

Sou um rastro rasteiro da emoção

Convivendo com a dura voz da razão

...

Às vezes meu espírito se distrai

É quando minha boca me trai

Em dó menor frente à grandiosa canção

Agora é apelo não mais sensação

...

Durmo como um cão a perseguir o rabo

Agarrando sonhos sem compaixão

Não passo de um rastejante rato

Se alimentando do que ficou em vão

...

Às vezes só quero ser aquilo

Aquela frágil dinamite no teu bolso

Eterna preciosidade zelada

Mas sempre pronta para explodir